quarta-feira, 29 de abril de 2015

SÍNTESE DAS IDEIAS DE KUHN SOBRE A CIÊNCIA E A SUA EVOLUÇÃO





 TESES CENTRAIS


1. Não há atividade científica fora de uma comunidade de praticantes (comunidade científica).
2. Não há comunidade científica sem a adoção consensual de um paradigma pelos seus membros.
3. A atividade a que ao longo da história da ciência os cientistas mais frequentemente se dedicam tem o nome de ciência normal.
4. A longos períodos de ciência normal sucedem de vez em quando episódios revolucionários a que se dá o nome de revoluções científicas, ou seja, mudanças de paradigma.
5. Uma revolução científica traduz-se numa forma de ver o mundo inteiramente nova e incompatível com a forma de ver o mundo associada e determinada pelo paradigma anterior.



6. Sendo a expressão de formas incompatíveis de ver o mundo, os paradigmas são incomensuráveis.
7. Sendo incomensuráveis, não há acima ou fora de cada paradigma um critério ou medida comum que permita considerar que um é mais verdadeiro do que outro ou que é um espelho mais fiel da realidade.
8. Assim sendo, não se pode falar de progresso científico se por este entendermos um progresso contínuo e cumulativo em direção à verdade. Se pudermos falar de progresso, este é descontínuo, feito de algumas ruturas ou descontinuidades, de mudanças de paradigmas e não de transformação de um paradigma noutro.
9. A substituição de um paradigma por outro não obedece a critérios estritamente objetivos e racionais.

A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA













ESQUEMA DA EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA
Pré-ciência --------- Ciência normal ----------Ciência extraordinária ------------ Revolução científica --------- Novo período de ciência normal …………….
1. Pré-ciência. Período marcado pela ausência de consenso, dado não haver um paradigma partilhado.
2. Ciência normal. Período longo em que um paradigma – o contexto intelectual e tecnológico da prática científica – dá unidade à atividade dos praticantes de ciência. Os cientistas aplicam o paradigma para determinar que problemas resolver e como os resolver e também procuram ampliar o seu poder explicativo. Este período assume por isso um caráter cumulativo resultante da invenção de instrumentos mais potentes e eficazes, que possibilitam medições mais exatas e precisas, não procurando o cientista a novidade nem pôr em causa o paradigma.
3. Ciência extraordinária. Período de crise do paradigma vigente, dado que as anomalias a princípio detetadas e relativamente desvalorizadas persistem e que a sua gravidade ameaçam as bases do paradigma. Não basta a existência de anomalias – o próprio termo é significativo ‒ para que o paradigma vigente entre em crise. É necessário que as anomalias abalem a confiança no paradigma e suscitem a constituição de paradigmas alternativos. Da união em torno de um paradigma passamos à divisão. A crise pode ser resolvida de duas maneiras: 1. Ou se reformula e reajusta o paradigma continuando a trabalhar com ele; 2. Ou se abandona o paradigma substituindo-o por um novo.



4. Revolução científica. Período em que se dá a mudança de paradigma e a constituição de uma nova forma de ver o mundo incompatível ou incomensurável com a anterior. A transição de um paradigma para outro não é pois um processo cumulativo, mas uma rutura e uma aposta nas potencialidades do novo paradigma. Se não conseguir explicar melhor os fenómenos que derrotavam o poder explicativo do anterior paradigma, o novo não triunfará.




5. Novo período de ciência normal. Estabelecida uma nova forma de fazer ciência e dotados de um novo «mapa» para explorar e investigar a natureza, os cientistas regressam a uma atividade relativamente rotineira marcada pela preocupação em consolidar o novo paradigma e em ampliar a sua aplicação.
A INCOMENSURABILIDADE DOS PARADIGMAS



Não há um critério absoluto que permita medir ou aferir os méritos relativos de cada paradigma e decidir da sua maior ou menor verdade.
Enquanto nova forma de ver o mundo – nova mundivisão –, o paradigma triunfante estabelece uma nova forma de fazer ciência, definindo um novo conjunto de normas e de procedimentos, que questões são legítimas, como é apropriado resolvê-las e mesmo um entendimento diferente de conceitos anteriores. Mas o novo não triunfa sobre o velho porque é objetivamente melhor. Na verdade, os paradigmas são incomensuráveis: diferentes maneiras de ver o mesmo mundo instalam os cientistas em mundos diferentes. Assim, não pode haver uma forma objetiva, um critério neutro, exterior a cada paradigma, para dizer que, na passagem de um a outro, houve um avanço em direção à verdade. A verdade é sempre relativa a um paradigma, pelo que é impossível, dada a incomensurabilidade dos paradigmas, determinar se um é mais verdadeiro ou melhor do que outro.

A ESCOLHA ENTRE PARADIGMAS
Não há nenhum argumento a priori – nenhum critério objetivamente estabelecido ‒ que em certa medida obrigue um cientista a adotar um paradigma e não outro.
Apesar de Kuhn apresentar alguns critérios objetivos que podem tornar um paradigma preferível a outro – simplicidade, fecundidade, alcance e precisão explicativa –, a escolha entre paradigmas envolve vários fatores (psicológicos e sociais). Assim, mesmo os critérios   objetivos são objeto de apreciação e de interpretação condicionadas por gostos, convicções religiosas, etc. No caso do triunfo do paradigma de Copérnico, por exemplo, houve cientistas que foram atraídos pela sua simplicidade, outros que valorizaram a sua capacidade explicativa e outros ainda que o rejeitaram por motivos religiosos. Vários fatores – científicos e extracientíficos (gostos, preferências religiosas, poder político e mesmo preconceitos)  influenciam a escolha do novo paradigma.
Assim, a mudança de paradigma não obedece a critérios estritamente racionais e objetivos.


Não há aproximação à verdade na evolução da ciência porque não podemos determinar se um paradigma é superior a outro.
A ciência evolui, mas é muito discutível dizer que essa evolução se faz de forma estritamente racional e objetiva.

II

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