quarta-feira, 29 de abril de 2015

A evolução da ciência segundo Popper e Kuhn

A evolução da ciência segundo Popper



Podemos dizer que o crescimento do nosso conhecimento é o resultado de um processo muito parecido com aquilo a que Darwin chamou «selecção natural», ou seja, da seleção natural de hipóteses: o nosso conhecimento consiste, em cada momento, naquelas hipóteses que mostraram a sua aptidão (comparativa) ao sobreviver até agora na sua luta pela existência, uma luta competitiva que elimina as hipóteses inaptas.

Podemos aplicar esta interpretação ao conhecimento dos animais e ao conhecimento pré-científico. O que é peculiar no conhecimento científico é o seguinte: nele torna-se mais dura a luta pela existência através da crítica consciente e sistemática das nossas teorias. Deste modo, enquanto o conhecimento dos animais e o conhecimento pré científico crescem sobretudo através da eliminação daqueles que mantêm as hipóteses inaptas, a crítica científica  faz frequentemente as nossas teorias perecerem em vez de nós, eliminando as nossas crenças antes que essas crenças conduzam à nossa eliminação.

                                                         Karl Popper, Conhecimento Objetivo


EVOLUÇÃO E OBJETIVIDADE DA CIÊNCIA

Progresso científico - eliminação das teorias menos aptas

A ciência progride através de um processo seletivo de eliminação de erros, onde teorias anteriormente corroboradas são, por fim, falsificadas e substituídas  por outras.
o   Quando uma teoria foi refutada por testes experimentais e é substituída por uma conjetura que resistiu a testes severos sendo corroborada, há progresso científico

o   Hoje estamos mais próximos da verdade do que há séculos atrás porque conjeturas mais falsificáveis foram refutadas, foram-se eliminando erros.
As conjeturas que resistem ao teste da crítica e da falsificação aproximam-se da verdade.
O progresso científico mede-se aproximação à verdade objetiva.
A ciência tem como meta a verdade que é inalcançável:

o   As teorias são conjeturas, nunca se provam definitivamente
  o   Uma teoria origina novos problemas  
Racionalidade científica e objectividade
     Adoção de uma atitude crítica em relação às teorias científicas, sujeitando-as a testes que as refutem
    A verdade ou falsidade de uma teoria é independente de crenças ou   opiniões e depende apenas da sua     a correspondência aos factos
    A  teoria científica resulta de critérios objetivos - a resistência aos testes empíricos. ciência é objetiva porque     uma conjectura é sujeita a testes severos independentemente do cientista que a propõe e do contexto social.

A evolução da ciência segundo Kuhn


 ciência normal, a atividade em que, inevitavelmente, a maioria dos cientistas consome quase todo o seu tempo, constitui-se na suposição de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do êxito da pesquisa deve-se ao facto da comunidade se encontrar disposta a defender essa suposição, mesmo que seja necessário pagar um preço elevado. A ciência normal, por exemplo, suprime frequentemente inovações fundamentais, devido a permanecerem demasiado subversivas relativamente às suas crenças habituais.

No entanto, (...) a própria natureza da investigação normal assegura que a inovação não seja ignorada durante muito tempo. Por vezes, um problema normal que deveria resolver-se por meio de regras e procedimentos conhecidos, opõe resistência aos esforços persistentes dos mais notáveis especialistas. Outras vezes, um instrumento concebido e construído para a investigação normal não dá os resultados esperados, revelando uma anomalia que, apesar dos esforços repetidos, não corresponde às esperanças profissionais.
A ciência normal perde-se muitas vezes nestes e noutros embaraços. E quando se acumulam, isto é, quando a comunidade de cientistas não pode passar por alto as anomalias que subvertem a tradição existente das práticas científicas, iniciam-se investigações extraordinárias que levam, por fim, à adoção de um conjunto de crenças, a uma nova base para a prática da ciência.
Os episódios extraordinários em que têm lugar essas mudanças de paradigmas, são denominadas neste ensaio por revoluções científicas.
                                                                      Kuhn, A Estrutura das Revoluções científicas

A evolução da ciência segundo Kuhn


A ciência normal, a atividade em que, inevitavelmente, a maioria dos cientistas consome quase todo o seu tempo, constitui-se na suposição de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do êxito da pesquisa deve-se ao facto da comunidade se encontrar disposta a defender essa suposição, mesmo que seja necessário pagar um preço elevado. A ciência normal, por exemplo, suprime frequentemente inovações fundamentais, devido a permanecerem demasiado subversivas relativamente às suas crenças habituais.

No entanto, (...) a própria natureza da investigação normal assegura que a inovação não seja ignorada durante muito tempo. Por vezes, um problema normal que deveria resolver-se por meio de regras e procedimentos conhecidos, opõe resistência aos esforços persistentes dos mais notáveis especialistas. Outras vezes, um instrumento concebido e construído para a investigação normal não dá os resultados esperados, revelando uma anomalia que, apesar dos esforços repetidos, não corresponde às esperanças profissionais.
A ciência normal perde-se muitas vezes nestes e noutros embaraços. E quando se acumulam, isto é, quando a comunidade de cientistas não pode passar por alto as anomalias que subvertem a tradição existente das práticas científicas, iniciam-se investigações extraordinárias que levam, por fim, à adoção de um conjunto de crenças, a uma nova base para a prática da ciência.
Os episódios extraordinários em que têm lugar essas mudanças de paradigmas, são denominadas neste ensaio por revoluções científicas.
                                                                      Kuhn, A Estrutura das Revoluções científicas

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA COMO SUCESSÃO DE PARADIGMAS


PARADIGMA
Conjunto de conceitos fundamentais e de procedimentos padronizados, aceites pela comunidade científica, que orientam e determinam a prática científica numa determinada época.

Elementos dos paradigmas:

Leis e pressupostos teóricos fundamentais
Regras para aplicar as leis à realidade
Regras para usar instrumentos científicos
Princípios metafísicos e filosóficos


CIÊNCIA NORMAL

Ciência que se faz no âmbito de um paradigma; a atividade de resolução de problemas dirigida pelas regras do paradigma.
COMUNIDADE CIENTÍFICA
Comunidade em que os cientistas se inserem para desenvolver o trabalho de investigação, de acordo com o paradigma vigente
ANOMALIAS

Enigmas que resistem à tentativa de solução

CRISE
Período em que um número elevado de anomalias leva o paradigma vigente a entrar em rutura e a formar-se um novo paradigma.
CIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA
Atividade científica que entra em rutura com o paradigma vigente e se orienta por outro paradigma.
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
Adoção de um paradigma novo por parte de toda a comunidade científica.

OS PARADIGMAS SÃO INCOMENSURÁVEIS, NÃO PODEM SER COMPARADOS
OBJETIVAMENTE DE MODO A DETERMINAR QUAL É O MELHOR
 Não se podem comparar objetivamente dois paradigmas de modo a afirmar que um é superior ao outro porque são diferentes, com linguagens diferentes. 
Um paradigma determina um modo de ver o mundo. Entre dois paradigmas existe um abismo que não é possível transpor.

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