terça-feira, 14 de julho de 2015

A CAVERNA EM QUE INSISTIMOS EM PERMANECER



   
     









           
     Acredito que se fosse dado a todos os seres humanos a oportunidade de pensar da maneira mais autónoma possível, teríamos saído da caverna (referência ao mundo das aparências), conforme Platão ilustra na sua obra A República, na passagem sobre o “Mito da Caverna”. A grande questão é: Estamos dispostos a sair de nossas cavernas e nos deixar guiar pela luz do sol que ilumina o mundo exterior a essas cavernas?


quarta-feira, 29 de abril de 2015

SÍNTESE DAS IDEIAS DE KUHN SOBRE A CIÊNCIA E A SUA EVOLUÇÃO





 TESES CENTRAIS


1. Não há atividade científica fora de uma comunidade de praticantes (comunidade científica).
2. Não há comunidade científica sem a adoção consensual de um paradigma pelos seus membros.
3. A atividade a que ao longo da história da ciência os cientistas mais frequentemente se dedicam tem o nome de ciência normal.
4. A longos períodos de ciência normal sucedem de vez em quando episódios revolucionários a que se dá o nome de revoluções científicas, ou seja, mudanças de paradigma.
5. Uma revolução científica traduz-se numa forma de ver o mundo inteiramente nova e incompatível com a forma de ver o mundo associada e determinada pelo paradigma anterior.



6. Sendo a expressão de formas incompatíveis de ver o mundo, os paradigmas são incomensuráveis.
7. Sendo incomensuráveis, não há acima ou fora de cada paradigma um critério ou medida comum que permita considerar que um é mais verdadeiro do que outro ou que é um espelho mais fiel da realidade.
8. Assim sendo, não se pode falar de progresso científico se por este entendermos um progresso contínuo e cumulativo em direção à verdade. Se pudermos falar de progresso, este é descontínuo, feito de algumas ruturas ou descontinuidades, de mudanças de paradigmas e não de transformação de um paradigma noutro.
9. A substituição de um paradigma por outro não obedece a critérios estritamente objetivos e racionais.

A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA













ESQUEMA DA EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA
Pré-ciência --------- Ciência normal ----------Ciência extraordinária ------------ Revolução científica --------- Novo período de ciência normal …………….
1. Pré-ciência. Período marcado pela ausência de consenso, dado não haver um paradigma partilhado.
2. Ciência normal. Período longo em que um paradigma – o contexto intelectual e tecnológico da prática científica – dá unidade à atividade dos praticantes de ciência. Os cientistas aplicam o paradigma para determinar que problemas resolver e como os resolver e também procuram ampliar o seu poder explicativo. Este período assume por isso um caráter cumulativo resultante da invenção de instrumentos mais potentes e eficazes, que possibilitam medições mais exatas e precisas, não procurando o cientista a novidade nem pôr em causa o paradigma.
3. Ciência extraordinária. Período de crise do paradigma vigente, dado que as anomalias a princípio detetadas e relativamente desvalorizadas persistem e que a sua gravidade ameaçam as bases do paradigma. Não basta a existência de anomalias – o próprio termo é significativo ‒ para que o paradigma vigente entre em crise. É necessário que as anomalias abalem a confiança no paradigma e suscitem a constituição de paradigmas alternativos. Da união em torno de um paradigma passamos à divisão. A crise pode ser resolvida de duas maneiras: 1. Ou se reformula e reajusta o paradigma continuando a trabalhar com ele; 2. Ou se abandona o paradigma substituindo-o por um novo.



4. Revolução científica. Período em que se dá a mudança de paradigma e a constituição de uma nova forma de ver o mundo incompatível ou incomensurável com a anterior. A transição de um paradigma para outro não é pois um processo cumulativo, mas uma rutura e uma aposta nas potencialidades do novo paradigma. Se não conseguir explicar melhor os fenómenos que derrotavam o poder explicativo do anterior paradigma, o novo não triunfará.




5. Novo período de ciência normal. Estabelecida uma nova forma de fazer ciência e dotados de um novo «mapa» para explorar e investigar a natureza, os cientistas regressam a uma atividade relativamente rotineira marcada pela preocupação em consolidar o novo paradigma e em ampliar a sua aplicação.
A INCOMENSURABILIDADE DOS PARADIGMAS



Não há um critério absoluto que permita medir ou aferir os méritos relativos de cada paradigma e decidir da sua maior ou menor verdade.
Enquanto nova forma de ver o mundo – nova mundivisão –, o paradigma triunfante estabelece uma nova forma de fazer ciência, definindo um novo conjunto de normas e de procedimentos, que questões são legítimas, como é apropriado resolvê-las e mesmo um entendimento diferente de conceitos anteriores. Mas o novo não triunfa sobre o velho porque é objetivamente melhor. Na verdade, os paradigmas são incomensuráveis: diferentes maneiras de ver o mesmo mundo instalam os cientistas em mundos diferentes. Assim, não pode haver uma forma objetiva, um critério neutro, exterior a cada paradigma, para dizer que, na passagem de um a outro, houve um avanço em direção à verdade. A verdade é sempre relativa a um paradigma, pelo que é impossível, dada a incomensurabilidade dos paradigmas, determinar se um é mais verdadeiro ou melhor do que outro.

A ESCOLHA ENTRE PARADIGMAS
Não há nenhum argumento a priori – nenhum critério objetivamente estabelecido ‒ que em certa medida obrigue um cientista a adotar um paradigma e não outro.
Apesar de Kuhn apresentar alguns critérios objetivos que podem tornar um paradigma preferível a outro – simplicidade, fecundidade, alcance e precisão explicativa –, a escolha entre paradigmas envolve vários fatores (psicológicos e sociais). Assim, mesmo os critérios   objetivos são objeto de apreciação e de interpretação condicionadas por gostos, convicções religiosas, etc. No caso do triunfo do paradigma de Copérnico, por exemplo, houve cientistas que foram atraídos pela sua simplicidade, outros que valorizaram a sua capacidade explicativa e outros ainda que o rejeitaram por motivos religiosos. Vários fatores – científicos e extracientíficos (gostos, preferências religiosas, poder político e mesmo preconceitos)  influenciam a escolha do novo paradigma.
Assim, a mudança de paradigma não obedece a critérios estritamente racionais e objetivos.


Não há aproximação à verdade na evolução da ciência porque não podemos determinar se um paradigma é superior a outro.
A ciência evolui, mas é muito discutível dizer que essa evolução se faz de forma estritamente racional e objetiva.

II

A FILOSOFIA DA CIÊNCIA DE KARL POPPER



SÍNTESE DAS IDEIAS DE POPPPER SOBRE O MÉTODO CIENTÍFICO E A CIÊNCIA

TESES CENTRAIS
1. Uma teoria é científica se for testável e suscetível de falsificação empírica mediante a observação.
2. Uma teoria irrefutável não tem direito a ser considerada científica.
3. O indutivismo é uma perspetiva errada sobre o método científico.
4. As teorias e hipóteses científicas não podem ser verificadas nem confirmadas, unicamente corroboradas.
5. Os cientistas exercem uma vigilância crítica permanente das hipóteses e teorias científicas.
6. A ciência é objetiva porque os cientistas submetem as teorias ou hipóteses a testes empíricos rigorosos.
7. A ciência procede por conjeturas (hipóteses) e refutações em direção a um ideal de verdade que nunca atingirá, mas do qual se aproxima constantemente mediante a eliminação de erros.
A falsificabilidade
O tema da falsificabilidade permite a Popper resolver dois problemas: o da demarcação entre ciência e não ciência e o do papel da indução na ciência.
A falsificabilidade é a caraterística de uma teoria ou hipótese que pode ser refutada por alguma observação.

O problema da demarcação
O problema da demarcação consiste em encontrar um critério que permita separar   ciência de pseudociência.
Será científica a teoria que se submete a testes destinados a falsificá-la e assim a refutá-la. A ciência distingue-se da pseudociência porque procura falsificar e não verificar ou confirmar as suas hipóteses. 
As teorias que não são refutáveis por alguma observação possível não são científicas. E são cientificamente tanto mais úteis quanto mais riscos correrem nas previsões que fazem.

Contra o indutivismo e o verificacionismo

Popper resolve o problema da indução opondo à conceção indutivista da investigação científica (que procura tornar verdadeiras as teorias) a falsificação.
A indução não é o método da ciência porque:
1. Não podemos inferir as hipóteses da experiência como se houvesse observações puras ou objetivas. Os cientistas deduzem consequências observacionais das teorias e, submetendo essas predições ao confronto com os factos, sujeitam as teorias a testes rigorosos. Não precisam da indução para formar hipóteses.
2. A experimentação científica não é realizada com o objetivo de «verificar» ou estabelecer a verdade de hipóteses ou teorias porque esse objetivo é impossível.
A indução não nos pode dar certezas acerca da verdade das nossas teorias. Por maior que seja o número de observações a favor de uma teoria obtida por indução, esta pode sempre vir a revelar-se falsa. Mas podemos muitas vezes ter a certeza da sua falsidade adotando um modelo hipotético dedutivo que procura provar a falsidade e não a verdade de uma teoria.


A corroboração 
Uma teoria diz-se corroborada quando resiste aos testes destinados a falsificá-la.
Para ser corroborada uma teoria deve apresentar um bom conteúdo empírico que restrinja aquilo segundo as suas previsões pode acontecer ‒ de modo a não ser vaga ‒ e deve passar em testes sérios e rigorosos. Mas ser corroborada não significa dizer que a sua verdade foi provada nem que é provável que seja verdadeira. Unicamente não foi refutada e podemos continuar a trabalhar com ela, se não for posteriormente desmentida ou se não encontrarmos uma melhor. A qualquer momento, uma teoria pode ser refutada por novos testes. O máximo que se pode dizer de uma teoria científica é que, até a um dado momento, ela resistiu aos testes usados para a refutar.

O progresso do conhecimento científico

A ciência progride mediante o método das conjeturas e refutações.
As conjeturas ou hipóteses – que nunca podem ser verificadas ou confirmadas ‒ são sujeitas a testes severos aos quais podem sobreviver ou não. As que sobrevivem às tentativas de refutação revelam-se mais resistentes, mas nunca verdadeiras ou provavelmente verdadeiras. Constituem, em comparação com outras, uma melhor aproximação à verdade. O seu grau de verosimilhança é o critério que as torna melhores do que teorias rivais. Aproxima-se mais da verdade a conjetura que resolve melhor certos problemas do que as suas competidoras.
O progresso científico, mediante a eliminação de erros, é uma evolução em direção a uma meta ideal inalcançável: o ideal da verdade como espelho fiel da realidade.

Síntese da teoria cartesiana do conhecimento

Síntese da teoria cartesiana do conhecimento
O projeto
Construir um sistema de verdades indubitáveis em que de uma verdade que seja impossível considerar falsa possamos deduzir outras verdades que sejam certezas absolutas. 
As razões de ser do projeto

1. O sistema dos ditos conhecimentos do seu tempo era constituído por verdades e falsidades. 
2. Temos de separar o verdadeiro do falso e justificar que o que acreditamos ser verdadeiro é absolutamente verdadeiro. 
3. O sistema dos ditos conhecimentos do seu tempo não tinha bases firmes e estava desorganizado a tal ponto que havia falsidades na base do sistema e verdades noutros pontos desse sistema. 
4. Temos de encontrar uma verdade indubitável que sirva como base ao sistema dos conhecimentos e permita organizá-lo firme e seguramente. 

A estratégia
para atingir esse objetivo
Vamos submeter ao exame rigoroso da dúvida as bases em que assentava o sistema dos conhecimentos estabelecidos. 
1. Consideraremos falso o que não for absolutamente verdadeiro ou indubitável. 
2. Consideraremos enganadora qualquer faculdade que alguma vez nos tenha enganado ou de que cujo funcionamento correto possamos por muito pouco que seja suspeitar. 
A dúvida será por isso aplicada de forma hiperbólica. 
3. As bases do sistema dos ditos conhecimentos que vamos examinar implacavelmente são:
– A crença de que os sentidos são fontes fiáveis de conhecimento sobre as propriedades dos objetos físicos. 
– A forte crença de que existem realidades físicas; 
– A crença de que as mais fiáveis produções do nosso entendimento – as matemáticas – são um modelo de verdade indubitável. 
O que passar neste exame rigoroso será indubitavelmente verdadeiro. 

O que não passa no exame da dúvida metódica/hiperbólica
1. Os sentidos não são dignos de confiança quanto às informações quer sobre as qualidades das coisas sensíveis quer sobre a existência dessas mesmas coisas. 
As ilusões dos sentidos e o argumento de que não temos forma de distinguir absolutamente o sonho da realidade, o fictício do real levam-nos a negar o empirismo (que o conhecimento comece com a experiência sensível) e a crença de que o mundo físico indubitavelmente existe. 
2. O correto funcionamento do nosso entendimento (razão) é colocado sob suspeita devido ao argumento de que Deus pode tê-lo criado destinado a confundir o falso com o verdadeiro. 
Os objetos sensíveis e os objetos inteligíveis – exemplificados pela matemática – são colocados sob suspeita e por isso deles não pode derivar-se conhecimento algum. 

O que resiste à dúvida. 
Resiste à dúvida a existência do sujeito que de tudo duvida. «Duvido – penso – logo existo» é uma verdade indubitável porque a existência de quem duvida não pode ser objeto de dúvida nenhuma. 

Caraterísticas da primeira verdade

1. É primeira porque impõe-se no momento em que de tudo se duvida. 
2. É primeira porque não deriva de nenhuma outra (teria de haver outra, o que não acontece).
3. É objeto de intuição existencial e não de dedução – será o ponto de partida de todas as deduções que faremos para construir o sistema firme dos conhecimentos. 
4. É, por isso, o primeiro princípio do sistema dos conhecimentos.
5. Corresponde à existência de um sujeito cuja natureza ou essência consiste em pensar. 
6. É uma ideia ou verdade inata porque se impõe como absolutamente indubitável independentemente da experiência. Nasce connosco e descobrimo-la como certeza sem apoio empírico. 
7. É um critério ou modelo de verdade, dada a evidência, clareza e distinção, com que se impõe. 

Verdades indubitáveis que deduzimos da primeira verdade

1. A alma é distinta do corpo. 
Todas as coisas sensíveis – incluindo o meu corpo ‒ podem não passar de realidades que só existem em sonho. Mas existo e disso não posso duvidar. Se não preciso do corpo para existir, então a alma – o que eu sou – é distinta do corpo e mais fácil de conhecer do que este. 
2. Deus existe. 
Se duvido e nada conheço a não ser que existo e sou um ser pensante, então sou imperfeito. Mas de onde veio esta ideia? Comparei as minhas qualidades com as que caraterizam um ser perfeito. Logo, sem a ideia de um ser perfeito – do que é ser perfeito ‒, não saberia que sou imperfeito.
Mas sou a causa desta ideia? Sou o seu autor? Não, porque ela representa mais perfeição do que a que possuo e poderia causar. Logo, só um ser perfeito é causa da ideia de perfeito. Quem é esse ser? É Deus. Logo, Deus existe.

A importância da existência de Deus como ser perfeito

1. Afasta-se a desconfiança no funcionamento correto do nosso entendimento.
Provado que Deus não pode enganar, podemos confiar nas operações do nosso entendimento/razão. O critério da evidência é fundamentado de modo que aquilo que considero claro e distinto – evidente – é claro e distinto, absolutamente indubitável. 
2. Supera-se, em parte, o solipsismo.
Com efeito, Deus é ser cuja existência que não depende do sujeito pensante.
3. Deus é o fundamento metafísico das crenças verdadeiras. Garante-as absolutamente, porque garante que as evidências atuais são realmente indubitáveis como também que o serão sempre. O conhecimento torna-se assim um conjunto de verdades objetivas, independentes do sujeito pensante.
A recuperação da crença na existência do mundo físico
Descartes apercebe-se de que há ideias das coisas que não são produzidas pelo sujeito pensante. Existindo, devem ter uma causa: as próprias coisas sensíveis. Esta propensão ou crença natural é legítima e fundada dado que Deus, a quem a devo, não me engana. 

O racionalismo cartesiano
1. A razão é a fonte ou origem do conhecimento. 
Só as verdades descobertas pela razão e deduzidas desta têm direito ao título de conhecimento. O princípio do sistema dos conhecimentos é uma verdade puramente racional. Os sentidos não merecem confiança. 
2. O ideal de conhecimento em Descartes é o de um sistema dedutivo análogo ao modelo do raciocínio matemático que sempre o deslumbrou. 
De uma verdade indubitável – a existência do eu – deduz outras verdades que devem apresentar a mesma clareza e distinção. A matemática é um ideal metodológico e não a rainha das ciências, dado que esse estatuto de ciência primeira pertence à metafísica. 
3. As ideias que desempenham um papel decisivo no conhecimento são ideias inatas. 
Ideias como as de eu e de Deus formam-se no pensamento sem o contributo da experiência. São ideias que, mediante a reflexão puramente racional, a razão descobre em si, atualizando o que potencialmente existe na alma desde que existimos. O inatismo é a afirmação da autonomia da razão em relação à experiência. 
4. A dúvida metódica está ligada à natureza racionalista da filosofia de Descartes. 
A vontade de duvidar parte da ideia de que a razão não pode atingir a verdade subordinando-se à experiência, aos sentidos. A dúvida cumpre a função de devolver a razão à plena posse de si mesma, torna-a autónoma ao libertá-la da dependência em relação aos sentidos e dos falsos pontos de partida. 

SÍNTESE DA TEORIA DO CONHECIMENTO DE DAVID HUME




Projeto

Investigar as capacidades e os limites do entendimento humano no que respeita ao conhecimento do mundo de modo a evitar especulações inúteis e a determinar se e o que podemos saber.
Estratégia 

Estratégia 
Analisar os conteúdos da mente.

Os conteúdos da mente
Os conteúdos da mente são as impressões e as ideias.
Impressões e ideias são as unidades básicas do conhecimento.
Segundo o princípio da cópia, as ideias são cópias das impressões. As cópias são menos intensas e vívidas do que as impressões que estão na sua origem. 
As ideias são cópias de impressões e são por isso causadas por estas. Têm uma origem empírica. As nossas ideias formam-se todas a partir da experiência.
Se as ideias não fossem cópias das impressões, quem não possuísse a capacidade de ter a experiência da cor formaria a ideia de cores, o que é absurdo. Uma pessoa cega de nascença não poderá ter a ideia de branco porque nunca terá a impressão de branco.
O princípio da cópia e o empirismo
Do que não há impressão não há ideia. Só conhecemos aquilo de que temos experiência. O conhecimento começa com a experiência e daquilo de que não há experiência não há conhecimento
O problema do conhecimento do mundo ou conhecimento factual
A matemática e a lógica dão-nos verdades necessárias, mas não nos dão conhecimentos sobre o mundo. Por isso, o problema da possibilidade do conhecimento é o de saber se podemos conhecer os factos do mundo.
Em que consiste o nosso conhecimento dos factos do mundo
O nosso conhecimento do mundo consiste – esquecendo as observações simples como ver o Sol nascer – em explicações, generalizações e previsões. As explicações implicam o recurso à ideia de relação entre causa e efeito. As generalizações e as previsões são formas de raciocínio indutivo. Assim, o nosso conhecimento do mundo baseia-se essencialmente na relação causa e efeito e em inferências indutivas. Como os argumentos dedutivos se limitam às relações entre ideias, não servem para conhecer factos.
O pressuposto   fundamental do nosso conhecimento do mundo
Explicamos factos, generalizamos observações particulares e efetuamos previsões. O que subjaz a estas atividades é a crença de que o mundo se comporta de forma regular ou uniforme. A crença na uniformidade da natureza é a que está na base da nossa relação de conhecimento com os factos que constituem o mundo.
Em que consiste justificar a possibilidade de conhecimento dos factos do mundo
Consiste em tentar provar que é verdade o seguinte:
1. Que a ideia de conexão necessária dos fenómenos do mundo é uma propriedade objetiva das coisas (não é uma simples ideia).
2. Que os raciocínios indutivos mediante se exprimem, em princípio, o conhecimento dos factos nos permitem atingir conclusões verdadeiras.
A resolução destes dois problemas depende da solução de um problema mais fundamental: provar que é verdade que a natureza – os factos do mundo – se comporta de forma regular e uniforme.

Primeira conclusão cética: Não é possível provar que a ideia de conexão necessária é verdadeira.
Não podemos provar que acontecimentos que supomos causalmente relacionados estejam conectados necessariamente. Como conhecer é explicar os factos estabelecendo uma conexão necessária entre eles, o conhecimento objetivo do mundo não é possível.
Por que razão se chega a esta conclusão? 
Porque, se todo o conhecimento depende da experiência, esta não nos dá contudo nenhuma prova (nenhuma impressão) de uma conexão necessária entre acontecimentos. Podemos pensar que certos acontecimentos são causas de outros, mas tal crença não pode ser justificada pela experiência. A experiência nada mais nos mostra do que uma conjunção constante entre certos factos, mas nunca uma ligação necessária que faça de um a causa sem a qual o outro não existe ou acontece.
Segunda conclusão cética:
O nosso conhecimento do mundo não se pode basear na indução.
«A causa B» significa que A produz B ou que B é e será sempre seguido por A. Até agora tem sido assim e assim continuará a ser. Esta crença exprime-se mediante um argumento indutivo, argumento que nos leva para lá da experiência ou da observação empírica.
Qualquer argumento indutivo, tal como a ideia de conexão necessária, pressupõe a ideia de uniformidade da natureza, que esta se comporta sempre do mesmo modo ou que é previsível. Mas essa ideia só poderia ser justificada mediante o recurso a um argumento indutivo. Ora, isso é fazer do que se pretende provar uma forma de prova, o que consiste numa petição de princípio (não é logicamente legítimo que mediante a indução, que   depende da ideia de uniformidade da natureza, provemos a verdade desta ideia).
Assim, o nosso conhecimento do mundo não se pode basear nem em argumentos dedutivos – não tratam de factos – nem em argumentos indutivos (da ideia de uniformidade da natureza na qual os argumentos indutivos se baseiam não podemos ter qualquer experiência).
Conclusão cética global: O conhecimento objetivo não é possível.
O conhecimento do mundo não é possível. Formamos ideias acerca do modo como as coisas do mundo são ou funcionam, mas não podemos pretender alcançar nem verdades indiscutíveis – certezas – nem verdades prováveis.

Em que consiste o nosso conhecimento do mundo




O nosso conhecimento do mundo não é constituído nem por certezas nem por verdades   prováveis. Não possuímos crenças verdadeiras objetivamente justificadas.
Mas possuímos crenças que, não tendo um fundamento racional nem empírico, encontram no hábito ou costume uma forte base psicológica. As nossas inferências indutivas e a crença na conexão   necessária entre fenómenos baseiam-se no hábito. Sem qualquer faculdade que nos permita resolver questões de facto, não deixamos de explicar, de prever acontecimentos e, assim, de agir no mundo.   O hábito é o conhecimento transformado em crença indispensável.
O empirismo de David Hume

Podemos caraterizar o empirismo de Hume do seguinte modo:
1. Baseado na investigação das capacidades do entendimento humano, afirma que o conhecimento começa com a experiência e não pode ir além dela.
2. Analisando os conteúdos da mente envolvidos no ato de conhecer, conclui que a afirmação anterior tem a ver com o facto de que não há conhecimento de ideias a que não corresponda uma impressão sensível.
3. Se do que não há impressão não há ideia, não há ideias inatas.
4. As relações causais que estabelecemos entre os factos e as inferências que nos levam para lá da «memória e dos sentidos», ou seja, as inferências   indutivas, não têm fundamento empírico. Para lá da «memória e dos sentidos», não há impressão que justifique a crença de que há uma relação de necessidade entre causa e efeito e que o mundo continuará a ser como até agora tem sido.
5. O nosso conhecimento do mundo não é constituído nem por verdades indubitáveis nem por verdades prováveis. O empirismo de Hume é, de certa forma, um ceticismo.
6. Não podemos provar que conhecemos os factos do mundo, mas não podemos deixar de acreditar que conhecemosO conhecimento é uma crença em cuja verdade podemos confiar mesmo que não a possamos justificar. Devemos deixar-nos guiar pelo hábito.

O problema da subjetividade, relatividade ou objetividade dos valores

TEORIAS SOBRE OS VALORES E OS JUÍZOS DE VALOR
Não há factos acerca de valores.
Os valores não são propriedades objetivas dos objetos, sendo projetados neles pelos sujeitos b) e culturas a)
RELATIVISMO CULTURAL
Os juízos de valor:
-   São relativos às culturas.
-   São verdadeiros ou falsos em função da avaliação das culturas
SUBJETIVISMO  
Os juízos de valor:
-        São expressões das preferências dos sujeitos.
-        São verdadeiros ou falsos em função da avaliação dos indivíduos
Há uma verdade objetiva acerca dos valores.
Os valores são propriedades objetivas do mundo
OBJETIVISMO
-        Alguns juízos de valor são objetivos

TEORIAS
ARGUMENTOS
OBJECÕES
RELATIVISMO CULTURAL

Os valores são relativos às sociedades

Não há valores morais universais

Nenhum código moral é superior a qualquer outro

ARGUMENTO DA DISCORDÂNCIA

Verificam-se discordâncias relativamente aos juízos de valor (variam de cultura para cultura)
Não discordamos relativamente a todos os valores
Há casos em que estamos perante juízos objetivos e há discordâncias
O facto de haver diversidade não quer dizer que não existam juízos de facto verdadeiros sobre um assunto

ARGUMENTO DA TOLERÂNCIA

Considera que não há valores certos ou errados, assim uma cultura não deve impor os seus valores às outras, promovendo assim a tolerância entre sociedades

Afirma a intolerância como bem (valor) objetivo.
Temos de ser tolerantes com todos os juízos de valor, incluindo os intolerantes e moralmente indesejáveis

ARGUMENTO DA ESTRANHEZA DE VALORES
Os valores não podem existir como propriedades dos objetos porque se assim fosse os valores teriam de ter existência autónoma. Ora, ninguém tem indícios de que os valores não existam apenas nas nossas mentes

O facto de ninguém ter indícios de que os valores não existam apenas nas nossas mentes não é suficiente para provar que não têm existência própria.
SUBJETIVISMO

Os valores são relativos aos sujeitos

São expressões de preferências individuais

O valor de verdade dos juízos de valor depende das preferências e sentimentos dos sujeitos que os proferem



ARGUMENTO DA DISCORDÂNCIA

Verificam-se discordâncias relativamente aos juízos de valor (variam de indivíduo para indivíduo)
Não discordamos relativamente a todos os valores

Há casos em que estamos perante juízos objetivos e há discordâncias

O facto de haver diversidade não quer dizer que não existam juízos de facto verdadeiros sobre um assunto

ARGUMENTO DA TOLERÂNCIA

Considera que não há valores certos ou errados, assim um indivíduo não deve impor os seus valores aos outros.


Afirma a intolerância como bem (valor) objetivo.

Temos de ser tolerantes com todos os juízos de valor, incluindo os intolerantes e moralmente indesejáveis

ARGUMENTO DA ESTRANHEZA DE VALORES

Os valores não podem existir como propriedades dos objetos porque se assim fosse os valores teriam de ter existência autónoma. Ora, ninguém tem indícios de que os valores não existam apenas nas nossas mentes

O facto de ninguém ter indícios de que os valores não existam apenas nas nossas mentes não é suficiente para provar que não têm existência própria.
OBJETIVISMO

Os valores são objectivos

O valor de verdade não depende das preferências do sujeito que o profere



ARGUMENTO DAS CAUSAS MORALMENTE INDESEJÁVEIS

Se não houvesse juízos objetivos sobre valores, teríamos que considerar que práticas morais como o racismo ou o genocídio seriam tão corretas como a democracia

É uma consequência indesejável que temos de aceitar pois resulta da relatividade dos valores culturais

ARGUMENTO DA COINCIDÊNCIA DE VALORES

 Mesmo perante a diversidade de pessoas, sociedades, culturas e tempos existe uma grande coincidência de valores (exemplo: homicídio e incesto)
Verificam-se discordâncias nos juízos de valor

ARGUMENTO DA CAPACIDADE EXPLICATIVA

Nem todas as opiniões/ juízos de valor valem o mesmo; quando se aprecia um quadro ou o valor moral de uma ação, estão em causa características, conhecimentos e capacidades no domínio da arte e a intenção e consciência da ação.

Apesar do conhecimento e especialização em domínios como a arte ou a moral, haverá sempre um desacordo de juízos de valor.

ARGUMENTO DO DISSIDENTE

A dissidência de valores é um facto; indivíduos de uma cultura vão contra os valores socialmente aceites levando muitas vezes a uma mudança no sentido da passagem de um juízo de valor falso a um juízo de valor verdadeiro.