quarta-feira, 29 de abril de 2015

SÍNTESE DA TEORIA DO CONHECIMENTO DE DAVID HUME




Projeto

Investigar as capacidades e os limites do entendimento humano no que respeita ao conhecimento do mundo de modo a evitar especulações inúteis e a determinar se e o que podemos saber.
Estratégia 

Estratégia 
Analisar os conteúdos da mente.

Os conteúdos da mente
Os conteúdos da mente são as impressões e as ideias.
Impressões e ideias são as unidades básicas do conhecimento.
Segundo o princípio da cópia, as ideias são cópias das impressões. As cópias são menos intensas e vívidas do que as impressões que estão na sua origem. 
As ideias são cópias de impressões e são por isso causadas por estas. Têm uma origem empírica. As nossas ideias formam-se todas a partir da experiência.
Se as ideias não fossem cópias das impressões, quem não possuísse a capacidade de ter a experiência da cor formaria a ideia de cores, o que é absurdo. Uma pessoa cega de nascença não poderá ter a ideia de branco porque nunca terá a impressão de branco.
O princípio da cópia e o empirismo
Do que não há impressão não há ideia. Só conhecemos aquilo de que temos experiência. O conhecimento começa com a experiência e daquilo de que não há experiência não há conhecimento
O problema do conhecimento do mundo ou conhecimento factual
A matemática e a lógica dão-nos verdades necessárias, mas não nos dão conhecimentos sobre o mundo. Por isso, o problema da possibilidade do conhecimento é o de saber se podemos conhecer os factos do mundo.
Em que consiste o nosso conhecimento dos factos do mundo
O nosso conhecimento do mundo consiste – esquecendo as observações simples como ver o Sol nascer – em explicações, generalizações e previsões. As explicações implicam o recurso à ideia de relação entre causa e efeito. As generalizações e as previsões são formas de raciocínio indutivo. Assim, o nosso conhecimento do mundo baseia-se essencialmente na relação causa e efeito e em inferências indutivas. Como os argumentos dedutivos se limitam às relações entre ideias, não servem para conhecer factos.
O pressuposto   fundamental do nosso conhecimento do mundo
Explicamos factos, generalizamos observações particulares e efetuamos previsões. O que subjaz a estas atividades é a crença de que o mundo se comporta de forma regular ou uniforme. A crença na uniformidade da natureza é a que está na base da nossa relação de conhecimento com os factos que constituem o mundo.
Em que consiste justificar a possibilidade de conhecimento dos factos do mundo
Consiste em tentar provar que é verdade o seguinte:
1. Que a ideia de conexão necessária dos fenómenos do mundo é uma propriedade objetiva das coisas (não é uma simples ideia).
2. Que os raciocínios indutivos mediante se exprimem, em princípio, o conhecimento dos factos nos permitem atingir conclusões verdadeiras.
A resolução destes dois problemas depende da solução de um problema mais fundamental: provar que é verdade que a natureza – os factos do mundo – se comporta de forma regular e uniforme.

Primeira conclusão cética: Não é possível provar que a ideia de conexão necessária é verdadeira.
Não podemos provar que acontecimentos que supomos causalmente relacionados estejam conectados necessariamente. Como conhecer é explicar os factos estabelecendo uma conexão necessária entre eles, o conhecimento objetivo do mundo não é possível.
Por que razão se chega a esta conclusão? 
Porque, se todo o conhecimento depende da experiência, esta não nos dá contudo nenhuma prova (nenhuma impressão) de uma conexão necessária entre acontecimentos. Podemos pensar que certos acontecimentos são causas de outros, mas tal crença não pode ser justificada pela experiência. A experiência nada mais nos mostra do que uma conjunção constante entre certos factos, mas nunca uma ligação necessária que faça de um a causa sem a qual o outro não existe ou acontece.
Segunda conclusão cética:
O nosso conhecimento do mundo não se pode basear na indução.
«A causa B» significa que A produz B ou que B é e será sempre seguido por A. Até agora tem sido assim e assim continuará a ser. Esta crença exprime-se mediante um argumento indutivo, argumento que nos leva para lá da experiência ou da observação empírica.
Qualquer argumento indutivo, tal como a ideia de conexão necessária, pressupõe a ideia de uniformidade da natureza, que esta se comporta sempre do mesmo modo ou que é previsível. Mas essa ideia só poderia ser justificada mediante o recurso a um argumento indutivo. Ora, isso é fazer do que se pretende provar uma forma de prova, o que consiste numa petição de princípio (não é logicamente legítimo que mediante a indução, que   depende da ideia de uniformidade da natureza, provemos a verdade desta ideia).
Assim, o nosso conhecimento do mundo não se pode basear nem em argumentos dedutivos – não tratam de factos – nem em argumentos indutivos (da ideia de uniformidade da natureza na qual os argumentos indutivos se baseiam não podemos ter qualquer experiência).
Conclusão cética global: O conhecimento objetivo não é possível.
O conhecimento do mundo não é possível. Formamos ideias acerca do modo como as coisas do mundo são ou funcionam, mas não podemos pretender alcançar nem verdades indiscutíveis – certezas – nem verdades prováveis.

Em que consiste o nosso conhecimento do mundo




O nosso conhecimento do mundo não é constituído nem por certezas nem por verdades   prováveis. Não possuímos crenças verdadeiras objetivamente justificadas.
Mas possuímos crenças que, não tendo um fundamento racional nem empírico, encontram no hábito ou costume uma forte base psicológica. As nossas inferências indutivas e a crença na conexão   necessária entre fenómenos baseiam-se no hábito. Sem qualquer faculdade que nos permita resolver questões de facto, não deixamos de explicar, de prever acontecimentos e, assim, de agir no mundo.   O hábito é o conhecimento transformado em crença indispensável.
O empirismo de David Hume

Podemos caraterizar o empirismo de Hume do seguinte modo:
1. Baseado na investigação das capacidades do entendimento humano, afirma que o conhecimento começa com a experiência e não pode ir além dela.
2. Analisando os conteúdos da mente envolvidos no ato de conhecer, conclui que a afirmação anterior tem a ver com o facto de que não há conhecimento de ideias a que não corresponda uma impressão sensível.
3. Se do que não há impressão não há ideia, não há ideias inatas.
4. As relações causais que estabelecemos entre os factos e as inferências que nos levam para lá da «memória e dos sentidos», ou seja, as inferências   indutivas, não têm fundamento empírico. Para lá da «memória e dos sentidos», não há impressão que justifique a crença de que há uma relação de necessidade entre causa e efeito e que o mundo continuará a ser como até agora tem sido.
5. O nosso conhecimento do mundo não é constituído nem por verdades indubitáveis nem por verdades prováveis. O empirismo de Hume é, de certa forma, um ceticismo.
6. Não podemos provar que conhecemos os factos do mundo, mas não podemos deixar de acreditar que conhecemosO conhecimento é uma crença em cuja verdade podemos confiar mesmo que não a possamos justificar. Devemos deixar-nos guiar pelo hábito.

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